sábado, 31 de agosto de 2013

OLHARES DÍSPARES

                                                       
Dentro do quarto reina o silêncio. Abrigado, mal percebo a mudança da temperatura do lado de fora. O bater da chuva na janela não atrai minha atenção. A rua está deserta. Vislumbro sombras que se movem ao sabor do vento e um movimento quase imperceptível se faz notar. Não dá pra definir o que se oculta dentro daquele amontoado de trapos. Uma indagação surge: ‘Alguém em perfeito juízo sairia com um tempo tão ruim assim?’ Tudo parecia em fúria: o vento forte, a chuva torrencial, a rua alagada,... Mas, alguém parecia nada notar.
  Era um ser humano, sexo indefinido, pequena estatura; envolto em roupas que não podiam ser classificadas como vestido, capa ou cobertor. Talvez, fosse uma mistura de tudo isso.  Com a metade do corpo enfiado no depósito fétido, procurava avidamente por alguma coisa. De repente, ouço nitidamente um latido que retrata alegria, satisfação, companheirismo. Uma figura patética, de pelo ralo, cor e raça incertas; mostra a pequena cabeça, com as orelhas em pé.
O vulto fica ereto, trás na mão algo de valor e decidido sai dali conversando com um cão de pequena estatura que pula e balança o rabo indiferente a tudo, somente atento ao vulto e ao que o mesmo tinha na mão direita. O cão responde numa linguagem que somente seu companheiro entende.
Sentindo-me  um estranho num mundo que é somente deles, decido por deitar na cama e fixo meus olhos no teto iluminado. Sinto-me só, não tenho com quem compartilhar minhas preocupações do dia a dia, nem divagar sobre as esperança imprecisas  de um amanhã que não chega.

30/08/13

terça-feira, 27 de agosto de 2013

MANTO DO SILÊNCIO

        

          Assunto proibido. Quem sabe não quer se envolver. Quem já ouviu falar foge da conversa. Enquanto isso, pequerruchos estão sendo violados em todos os aspectos. Violadores doentes ou não, usufruindo prazeres somente quando consumados em seres indefesos e inocentes.
          Sonhos destruídos, almas dilaceradas que não sabem sequer o significado de tais atrocidades. Antigamente qualquer adulto era chamado de avô, tio Pedia-se a benção e respeitava-se os mais velhos e até alguns eram  tidos como membros da família.
         Hoje, ninguém confia em ninguém. Qualquer um pode ser o vilão. As vítimas podes ser seus filhos, seus sobrinhos, seus netos, os pequeninos da sua rua... Os violadores podem estar na  escola, no consultório, na esquina, dentro de um ônibus, etc.
         Choro por você criança que deveria brincar de boneca ou de carrinho, construindo casinhas e castelos, postos de gasolina ou pontes... vivendo num mundo de fantasia onde um dia eu pude entrar.

27/08/13

LEI MARIA DA PENHA

                                  
                                                   


     Hoje, assistindo as manifestações de um grupo seleto em sessão solene no Congresso Nacional pude perceber como as palavras parecem ter efeito mágico nas causas que infelizmente atingem todas as classes sociais, principalmente a de menor poder aquisitivo.
    História  antiga... desde os primórdios, a mulher foi tratada como ou pior do que animal de carga. Sem voz, sem direito, sem qualificação, sem o simples poder de decidir ir ou vir. Escrava de figuras ditas fortes, protetoras, detentoras do saber, e com direito de tirar e dar vida.
     Muitas conquistas foram adquiridas, preços foram pagos para estarmos onde estamos hoje. Será que realmente conquistamos o que é devido e de direito? Agressões verbais, físicas, silenciosas, ardilosas, camufladas...permanecem soltas na sociedade dita moderna, qualificada...
     Usam figuras públicas e até galãs para enviarem mensagens. Outros detentores do poder prometem às vítimas: justiça, proteção, mudança nas leis, casas de apoio, acompanhamento psicológico, etc. Desculpem meu negativismo... Ainda há um longo caminho a ser percorrido.Muitas mulheres permanecem engaioladas, bárbaros dentro e fora de quatro paredes; enquanto isso, sequelas incontáveis permanecerão nas vítimas que não se restringem apenas às mulheres, mas todos que estão à sua volta - pais,irmãos, filhos, vizinhos,etc.
     Não sei se já é tempo de aplaudir, reconheço que muitos estão engajados nesta peleja. Mas, quantas vidas serão ceifadas? Quantos filhos presenciarão os brutamontes aniquilando  a rainha do lar, o tesouro de seus corações, o motivo de sua canção?
     Não sei se cadeia servirá de lição, se leis mais severas minimizarão os estragos... Acredito que
quando as mulheres se sentirem seguras para rejeitarem e delatarem seus detratores, os representantes legais tratarem as vítimas  com dignidade, essas mulheres tiverem onde recomeçar sem medo, e antes que a violência seja uma estrada sem volta, ou seja, com a mulher estirada sem vida, os agressores pagando como se o crime tivesse sido consumado, então poderei respirar aliviada e perceberei que outras Marias da Penha não morreram em vão.