Seu Frederico ficou uma fera quando os mascarados entraram na sua loja. 'Onde já se viu tamanha afoiteza, gente disfarçada aprontando qual larápio!' Todos de chicote na mão, fazendo barulho, causando medo. É que os estalos dos chicotes dão aviso: 'quem se aproximar sentirá o peso'. Os comerciantes não tem sossego, quando de longe ouvem o som inconfundível da turba, apressadamente cerram as portas; se demoram, grande é o prejuízo.
Os mascarados pedem alimento, dinheiro para colocar no boneco Judas. O momento é pra 'confraternização'. Após cada investida - manhã e tarde, vão banhar-se em algum barreiro. No início, os grupos eram formados por jovens. No decorrer dos anos, adolescentes e até crianças passaram a participar.E hoje, pra desespero de alguns pais e principalmente comerciantes, os grupos tornaram-se rivais, e espancam-se mutuamente quando se encontram na mesma rua.
O jeito era procurar as autoridades, pensou seu Frederico. Infelizmente, foi mal interpretado. 'Deixe disso, homem! Isso é cultura,é disso que o povo gosta. Coisa do povo fica com o povo'.O velho saiu dali soltando fogo pelas fuças. 'Deixar do mesmo jeito, se o que eles fazem não é direito? Homem, já sei o que vou fazer. Se chegarem no meu comércio mando baixar o sarrafo. O pau vai cantar e moleques vão dançar!'.
O que era pra ser diversão virou esculhambação. Mas a parte 'melhor' ainda está por vir: o boneco fica todo inchado dos ganhos e dos roubados; no dia do encerramento, vira o centro da atenção... Quem for macho que tente aguentar as chicotadas e ainda conseguir pegar a' mesada'.
Não sei aonde isso vai chegar. Só sei que muita gente tem baixado ao hospital, marcados qual gado, para sempre.
02/07/13